Destruir o Passado, Criar o Futuro


A ideia é o tempo.Viver no futuro. Olha para aqueles números a correr. O dinheiro gera o tempo. Dantes era ao contrário. O tempo cronológico acelerou a ascensão do capitalismo. As pessoas deixaram de pensar sobre a eternidade. Começaram a concentrar-se em horas, horas mensuráveis, horas humanas, usando o trabalho de uma maneira mais eficiente.

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Porque o tempo passou a ser um activo empresarial. Pertence ao sistema de mercado livre. O presente é mais difícil de encontrar. Está a ser sugado, eliminado do mundo para dar lugar ao futuro dos mercados livres e do potencial de investimento colossal. O futuro torna-se insistente. É por isso que algo vai acontecer em breve, talvez hoje… Para corrigir a aceleração do tempo e reconduzir a natureza ao seu trilho normal, mais ou menos.

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Sabes o que o capitalismo gera, segundo Marx e Engels?
Os seus próprios coveiros.
Mas estes não são os coveiros. Estas pessoas são uma fantasia gerada pelo mercado, não existem fora do seu âmbito. Mesmo que queiram recusar o mercado, pôr-se de fora, não têm para onde ir. Não há lado de fora. 

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Quanto mais visionária é uma ideia, mais gente deixa para trás. Eis o que motiva este protesto. Visões de tecnologia e de riqueza. A força do ciber-capital que vai atirar pessoas para a serjeta, para vomitarem as tripas e morrerem. Qual é o grande defeito da racionalidade humana? 
Finge não ver o horror e a morte causados pelos estratagemas que engendra. Isto é um protesto contra o futuro. Querem normaliza-lo, impedi-lo de submergir o presente. 

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Sabes aquilo que os anarquistas sempre acreditaram. 
O impulso que nos leva a destruir é um impulso criativo. 
Essa é também a pedra basilar do pensamento capitalista. Destruição compulsiva. As velhas indústrias têm de ser eliminadas sem piedade. Os novos mercados têm de ser conquistados à força. Os velhos mercados têm de ser reexplorados. Destruir o passado, criar o futuro. 

Don DeLillo
Cosmopólis