Esquecimento


O nome do autor é o primeiro a ir embora.
Seguem-se, obedientes, o título, o enredo,
o final de partir o coração, o romance inteiro
que de repente se converte num livro que nunca leste,
nem nunca dele ouviste falar.

É como se, uma por uma, as memórias que costumavas acolher
decidissem retirar-se para o hemisfério sul do cérebro,
para uma pequena vila piscatória onde não há telefones.

Há muito que deixaste para trás os nomes das nove musas
E que viste a equação quadrática fazer as malas,
e mesmo agora, enquanto memorizas a ordem dos planetas,

outra coisa está a escapar-se furtivamente, o nome de uma flor quem sabe,
a morada de um tio, a capital do Paraguai.

Seja o que for que te esforças por recordar
não está aprumadinho na ponta da tua língua,
nem sequer a espreitar de algum canto obscuro da tua melancolia.

Flutuou para longe, por um rio escuro e mitológico
cujo nome começa por L tanto quanto te consegues lembrar,
no caminho certo para o esquecimento onde te irás juntar àqueles
que até se esqueceram de como nadar e andar de bicicleta.

Não é de estranhar que te levantes a meio da noite
para confirmar a data de uma célebre batalha num livro sobre guerra.
Não é de estranhar que a lua emoldurada na janela pareça ter-se arredado
de um poema de amor que costumavas saber de cor.

Billy Collins
tradução de Tiago Szabo