Noite no Museu de História Natural


Na véspera da invasão russa, 
no Museu de História Natural de Praga, 
eu mapeava espécimes de peixes-serra 
e tartarugas gigantes, 
que emergem no Adriático 
de cinquenta em cinquenta anos. 
Ordenava infindáveis 
borboletas de mansas cores, 
coleccionava conchas dos sete mares. 
Retirava das caves fósseis porosos 
e ossos esquecidos de delfins. 
Antes de me tirarem a chave do museu, 
deixei um polvo dançar na eternidade envidraçada. 
Agora perguntam-me 
como é que um professor de biologia 
suporta o lugar de coveiro que lhe deram no cemitério local. 
Nada de estranhar, respondo, hão-de perceber que 
quanto mais fundo enterro a pá, 
mais perto fico da fonte da vida. 

Tomica Bajsić
tradução de Tamina Šop e Rui Manuel Amaral