Pais e Filhos


Declina a ideia de progresso, mas desaparece também a crença de que é possível agir sobre o curso dos acontecimentos, evitando o inevitável, melhorando o destino humano. Parece já não haver redenção, nem reparação, nem salvação. A esperança parece condenada a ser letra morta. Os sofrimentos infligidos no presente não encontram uma promessa de virem a ser ressarcidos na justiça por vir. Tudo se revela terrivelmente irremediável. Precisamente porque a História perde sentido, cada existência faz história em si mesma, dispersa e separada num destino singular e indecifrável. São cortados os laços com as outras existências e as outras histórias particulares. Torna-se então impossível que alguém leia a sua derrota numa História cujo resultado está ainda por decidir e veja a vida como um contributo para a construção de outro mundo, o da beatitude celeste ou da justiça terrena na sociedade sem classes. Deixa-se em herança um mundo pior e rompe-se o pacto atávico entre as gerações: os pais repreendem os filhos, que, por sua vez, repreendem os pais.

Donatella di Cesare
Vírus Soberano? a asfixia capitalista