O Desprezo
Que fazer? A solução de Camus fora apresentada anos antes [de A Peste] com O Mito de Sísifo (1942). «Não há destino que não possa ser ultrapassado pelo desprezo», escreveu. O «herói absurdo» ergue um punho de desprezo para o nada que o rodeia. A sua «paixão pela vida» depende do seu desprezo, pois tem perfeita consciência de que terá de pagar o preço do negócio corrupto que aceitou. Para abraçar a sua condição, uma pessoa tem inicialmente de encará-la como realmente é (e não é) e depois desprezá-la. Combater o absurdo com mais absurdo, é assim.
Sebastian Dieguez
"Nada é menos espectacular do que uma calamidade e, devido à sua duração, as grandes desgraças são monótonas" [Albert Camus], revista Electra