Não é Preciso Pensar


Nas ruas, nas esquinas, ao longo dos tapumes, cobrindo os quiosques, no metro, tinham colado enormes cartazes amarelos. Ao sair à tarde, Dacha viu um desses cartazes à sua frente e riu-se interiormente. Em letras grandes, no meio de muitos caracteres pequeninos, estava escrito: «NÃO É PRECISO PENSAR!» Correu até à esquina, onde Moreau Júnior a esperava no carro (para que houvesse menos falatório, ele agora não a esperava junto à entrada). Na esquina, à luz crepuscular, surgiu outra vez: «Não é preciso pensar!» Entrou no carro e uma hora depois, em frente do restaurante onde jantavam e em frente da entrada do Teatro Francês, para onde tinham bilhetes, de novo lhe surgiu diante dos olhos: Não é preciso pensar! Não é preciso pensar! 
Mas Dacha pensava: Tenho trinta e três anos e, quem sabe, talvez esta seja a minha única e última oportunidade. Desprezo-me a mim mesma por este raciocínio. Sim, hoje desprezo-me, mas daqui por três anos nem sequer compreenderei as minhas hesitações e estarei resignada e talvez até flutue alegremente ao encontro da vida que se organiza por si mesma. Afundo-me. Não há salvação. Não é preciso pensar. Não devo pensar. Só pode pensar aquele que é capaz de pensar até ao fim, de descobrir tudo, sem ter medo de nada, tirar conclusões e com base nessas conclusões dizer: Não! Mas eu não posso fazer isso, não descubro nada até ao fim e não digo «não» a nada. Não penso nada, não compreendo o que aconteceu comigo, e por isso não devo começar com estas reflexões, não tenho jeito para elas. Para que são estes cartazes? O que é isto, o título de uma nova peça de teatro ou o nome de uma pasta dentífrica? Não é preciso pensar. Não devemos fazer aquilo de que não somos capazes. Deslizemos pela vida. Não é preciso pensar. Não é preciso pensar. 
(Alguns dias depois descobriu-se que era um anúncio de frigoríficos.)

Nina Berbérova
O Cabo das Tormentas