Espanto


Releio os meus versos
e me aterrorizo com o que faço.

Como pude escrevê-los?

Como me deixei expor
como um quadro na parede
em diferentes formas de estar ali
no plano
e sublinhado por tudo que é subjetivo?

Vontade de voltar a ser criança
e brincar de pique-esconde e lambuzar-me
de mariola e rapadura derretida,

por baixo da cama
jogar as folhas de papel,
doar minha lapiseira
a uma entidade filantrópica
e guardar tudo que sou,

deixar os meus rastros contados,
fotografados e mostrados
somente para minha memória,

e no espanto me desintegrar.

Carlos Cardoso