Gilles Deleuze, numa longuíssima entrevista de três horas que deu em 1988 à sua amiga Claire Parnet (na condição de ela ser difundida depois da sua morte), definiu a esquerda e a direita como dois modos opostos de percepção. Ser de direita — disse ele — é seguir a lógica do remetente de uma carta: primeiro está o próprio, depois vem a rua onde mora, a seguir a cidade e finalmente o país; ser de esquerda, pelo contrário, é começar pela percepção do horizonte mais longínquo, isto é, perceber os contornos, e depois aproximarmo-nos progressivamente do que está perto de nós, de tal modo que os problemas distantes são percebidos como próximos. Usando este critério, chegamos à conclusão de que a esquerda é cada vez menos de esquerda, mas que a direita se mantém na sua posição de sempre.
Gilles Deleuze
citado e comentado por António Guerreiro em A Fábula do Mundo Rural, Acção Paralela, Suplemento Ípsilon, Jornal Público