A questão de Tocqueville é de perfeita actualidade. Mesmo que se possa conceber que entre liberdade e igualdade a oposição não é simples, isto é, que há a possibilidade de uma certa compatibilidade das duas paixões, é verdade que o risco do «despotismo democrático», que, movido pela paixão da igualdade, requer um Estado tutelar que se transforme em tutor dos cidadãos, organizando os mais ínfimos detalhes da sua existência, é um risco real do qual conhecemos, no quotidiano, inúmeros exemplos. Nesse sentido, a crise das democracias passa efectivamente, em parte, pelo perigo da extensão do domínio da paixão da igualdade. E a possibilidade de contrariar esse perigo só pode vir da tentativa de evitar que ela substitua por inteiro, no coração dos indivíduos, a paixão da liberdade.
Paulo Tunhas
Condições e Patologias da Democracia, Revista Electra