O Humor


Octavío Paz: «Nem Homero nem Virgílio conheceram o humor; Ariosto parece pressenti-lo, mas o humor só ganha forma com Cervantes [...] O humor, continua Paz, é a grande invenção do espírito moderno.» Ideia fundamental: o humor não é uma prática imemorial do homem; é uma invenção ligada ao nascimento do romance. O humor, portanto, não é o riso, a troça, a sátira, mas uma espécie particular de cómico, da qual Paz diz (e tal é a chave da compreensão da essência do humor) que «torna ambíguo tudo o que toca». Os que não sabem tirar prazer da cena em que Panúrgio deixa os mercadores de carneiros afogarem-se ao mesmo tempo que lhes faz o elogio do outro mundo nunca compreenderão nada da arte do romance.

Milan Kundera
Os Testamentos Traídos