E eis os Queijos


(...)
A Rachel levanta-se, não sem custo, e desaparece na obscuridade. Oiço os passos dela pelo corredor, vacilando no nevoeiro das três garrafas de vinho tinto. 
Regressa com uma bandeja nas mãos, com ar triunfante, como se transportasse um troféu. 
— E eis os queijos — diz ela. 
Com o mesmo movimento de entusiasmo, retira a tampa. 
Vejo quatro tipos de queijos. Dois amarelados, um vagamente branco e o quarto com nuances de verde. O cheiro a cadáver multiplica-se por dez. 
— E eis os queijos! — repete a Rachel. 
Estou contente com o meu novo país. E com os meus futuros concidadãos. Um povo que come queijos destes deve ter um bom ventre. E uma boa digestão. Um povo que consegue digerir um reblochon DOC (com três a quatro semanas de cura) consegue assimilar um imigrante, até mesmo um escritor estreante como eu. 
Diga-me uma coisa, Minha Senhora — começo eu —, o queijo verde e azul, está a ver, aquele que se mexe, mata-se primeiro ou come-se assim mesmo, vivo?

Velibor Colic
O Livro das Despedidas