Orquídea dos Seres Perdidos


Mas eu queria contar-lhe uma história que não é uma lenda, esse lugar existe, a menos de cem quilómetros daqui. Há alguns séculos, um vulcão, não longe do monte Fuji, entrou em erupção. Despejou através de quilómetros quadrados uma torrente de lava magnética, extremamente fértil, e brotou aí mesmo uma floresta imensa, frondosa e muito compacta. Os primeiros homens que pretenderam explorá-la perderam-se lá dentro. Voltaram outros mais tarde equipados de bússolas, mas o magnetismo da terra desnorteou tanto as agulhas que também eles nunca mais de lá saíram. Então, mais ninguém se ocupou de tal floresta, de sorte que ela se converteu num lugar sem saída, densa, onde ninguém ousa aventurar-se. Chamam-lhe Jukai, ou seja, o mar das árvores.
(...)
Desde essa altura, só as pessoas que desejam morrer aí penetram para aí se perderem... Mas a história não acaba aqui. Prospera, brota nesta floresta, a mais bela flor do mundo, uma orquídea, e dizem que os órfãos de amor, todos aqueles a quem as mágoas de coração lá conduziram para nunca mais voltarem, passam o seu derradeiro instante de vida a olhá-la, e depois, quando estão decididos, absorvem o veneno das suas pétalas, para viver nas últimas horas um júbilo louco, total e sem medida. Eis a história da «orquídea dos seres perdidos»... Nunca se conseguiu saber se era o labirinto do mar das árvores que fascinava mais, ou a atracção por esta flor de veneno, que só ali existe. 

O Viajante Magnífico
Yves Simon