Jogo Infantil
Enterrei a minha razão na mão, ando de cabeça erguida, alegremente, mas a mão pende cansada, a razão puxa-a para a terra. Olha bem para esta pequena mão calosa, crivada de veias, rasgada pelas rugas, cheia de veias salientes, com cinco dedos, ainda bem que consegui salvar a razão pondo-a neste singelo receptáculo. Particularmente extraordinário é o facto de eu ter duas mãos. Como num jogo infantil pergunto: em que mão tenho a minha razão, isso ninguém consegue adivinhar, porque juntando as mãos consigo passar a razão de uma mão para a outra num abrir e fechar de olhos.
Franz Kafka
Um Artista da Fome,
Histórias e Fragmentos Reunidos 1922-1924