MAGA
A tarde declinava enquanto eles tomavam café. Foi então que Martin disse:
— Estamos todos fartos da América e dos americanos. O tema dá-nos náuseas.
(...)
— Mas uma coisa vos digo — acrescentou.
(...)
— Não obstante todo o poder deste país e a imprudência com que o utiliza, deixem-me que vos diga, não obstante todo o perigo que gera no mundo, a América vai tornar-se irrelevante. Acreditam?
(...)
— Ha uma palavra em alemão. Gedankenübertragung. Trata-se da transmissão de pensamentos. Todos estamos a começar a ter este pensamento, a ideia da irrelevância americana. É um pouco como a telepatia. Está para breve o dia em que ninguém terá de pensar na América, apenas no perigo que este país representa. A América está a perder o centro. Transforma-se no centro da sua própria merda. Eis o único centro que passará a ocupar.
(...)
[ — Se nós ocupamos o centro, é porque vocês nos puseram lá. É este o vosso verdadeiro dilema. (...) — Apesar de tudo, nós continuamos a ser a América, vocês continuam a ser a Europa. Vocês vão ao cinema ver os nossos filmes, leem os nossos livros, ouvem a nossa música, falam a nossa língua. Como é que podem deixar de pensar em nós? Veem-nos e ouvem-nos constantemente. Tente responder a esta pergunta. O que virá depois da América? ]
Martin falou serenamente, em tom quase distraído, para consigo.
— Já não reconheço esta América. Não me identifico com ela — declarou. — No lugar onde antes estava a América há agora um espaço vazio.
Don DeLillo
O Homem em Queda