Osmose Sólida


Não se trata de uma decisão, é algo que me ultrapassa. Não é uma história de fronteiras e de nacionalidade. É uma história que tem que ver com o modo como o corpo é constituído como uma memória. E essa memória não vem de um universo intelectual, não vem das leituras, dos estudos que fazemos na escola e na universidade. Vem antes de um casamento, uma osmose entre o corpo e a terra, o ar, o vento. Sobre tudo isso, não temos domínio. E tudo o que faço no plano artístico, seja literatura ou cinema, vem, antes de mais, desses lugares, onde não somos capazes de intelectualizar as coisas, não somos capazes de reflectir com os códigos intelectuais dominantes da época, sejam esses códigos ocidentais, franceses ou quaisquer outros. Não se trata portanto de permanecer fiel a Marrocos ou aos marroquinos, ou de ter orgulho em ser árabe, é uma história muito mais primária do que tudo isso.

Abdellah Taïa
revista Electra