Homens do Cão
Dos imponentes prédios de apartamentos ou mansões sumptuosas, surge um exército de seres que outrora foram homens. Evidentemente que se mantêm erectos sobre as pernas e conservam a configuração e voz humanas, mas resulta fácil observar que estão atrasados em relação aos animais. Cada um desses entes segue um cão ao qual se acha unido por um ligamento artificial.
Todos esses homens são vítimas de Circe. Não se converteram por vontade própria em servos de Fido, moços de serviço de um canídeo e membros do séquito de «Towzer». A Circe moderna, em vez de os transformar em quadrúpedes, deixou-lhes amavelmente em relação a estes uma distância de dois metros. Cada um dos homens de cão foi convencido, subornado ou mandado, pela sua Circe privada, tomar ar nas imediações do domicílio.
Os semblantes e maneiras dos homens de cão indicam que se encontram sob a influência de um malefício indiscutível. Nunca um Ulisses surge sob qualquer disfarce para os libertar do horrível sortilégio.
Os rostos de alguns parecem rígidos como o granito. Ultrapassaram já as fases da comiseração, curiosidade ou zombaria dos seus semelhantes. Anos de matrimónio e serviço obrigatório contínuo aos cães emudeceram-nos contra tudo.
O. Henry
Ulisses e o Homem do Cão (Contos de O. Henry 2)