O Problema das Combinações


No romance de Gombrowicz, Cosmos, toda a narrativa rodeia o problema das combinações: 
"[...] debatiam-se vários assuntos, e, a dada altura, Lucien perguntou ao sogro o que é que ele pensava disto, imagine dez soldados a marcharem uns atrás dos outros, em fila indiana, no seu entender quanto tempo será preciso para que esgotem todas as combinações possíveis da sua ordem de marcha, se, por exemplo, se puser o terceiro em lugar do primeiro e assim sucessivamente... e supondo que se faz uma mudança por dia?" 
Eis uma daquelas perguntas que faz o questionado duvidar e que envolve um problema simples: a desproporção entre a quantidade de elementos e a quantidade de combinações entre esses elementos. 
"Léon reflectiu. 
Três meses, mais ou menos que tais. 
Lucien respondeu: 
Dez mil anos. Já se calculou. 
Meu caro - disse Léon. - Meu caro... meu caro..." 
Sim, meu caro: estes grandes números deixam-nos sempre perplexos.
Aquilo que constitui uma ordem inclui dentro de si a possibilidade de infinitas combinações, portanto: de infinitas ordens. Basta pôr em causa a hierarquia - quem vai primeiro, quem vai a seguir - para surgir a possibilidade de milhares de novas combinações.

Gonçalo M. Tavares
Matteo Perdeu o Emprego em comentário a Cosmos, Witold Gombrowicz