Em todos os ramos de atividade, ao escolherem as pessoas a empregar, preocupam-se mais com os princípios morais do que com as aptidões. Como os governos são necessários à humanidade, acreditam que o nível médio de conhecimentos humanos serve sempre para desempenhar algum papel profissional e que a Providência nunca pretendeu que a gestão dos negócios públicos fosse transformada num mistério apenas compreendido por uns poucos indivíduos de génio sublime, com o qual não nascem mais de três pessoas por geração. Por outro lado, supõem que a verdade, a justiça, a temperança e outras virtudes semelhantes estão ao alcance de todos. A prática dessas virtudes, assistida pela experiência e pelas boas intenções, qualifica qualquer homem para o serviço do seu país, salvo nos casos que exijam estudos específicos. Ainda assim, pensam que a falta de virtudes morais está tão longe de poder ser substituída pelas faculdades superiores da mente, que jamais os empregos devem ser colocados em mãos tão perigosas como as dessas pessoas altamente qualificadas. E, pelo menos, os erros cometidos por ignorância, mas assentes em princípios virtuosos, nunca teriam consequências tão fatais para o bem-estar público como as práticas de um homem cujas inclinações o conduziram à corrupção, tendo ele grande capacidade para a gerir, multiplicar e defender.
Jonathan Swift
As Viagens de Gulliver