A Poesia Adoeceu
A poesia adoeceu, nas últimas duas ou três décadas do século XX, por duas razões paradoxalmente opostas. A primeira é que os seus leitores eram todos poetas potenciais que se tornaram depois uma massa indistinta e cada vez menos consciente de si. A segunda razão é que a poesia é hoje uma arte sem público, o que baixou muito o seu nível de qualidade. Uma arte, qualquer arte, sem um público competente, exigente, acaba por piorar, perde qualidade técnica. A poesia foi durante muito tempo «o coração da literatura» sobretudo porque mantinha viva a língua. O valor de um poema não são os seus temas, é a sua linguagem. Hoje quase todos os livros de poesia que recebo são escritos numa língua vazia, desprovida de energia expressiva e comunicativa, à qual faltam quer o artifício, quer a natureza. Quando nasceu a lírica moderna, com Baudelaire, os poetas eram grandes escritores e intelectuais, a sua solidão era consciente e em certo sentido desejada: era consciência crítica e culto ascético da perfeição, da originalidade verbal. Gottfried Benn falou da lírica como uma arte «eremita». E, como sabemos, a vida de eremita não é fácil, exige uma arte extraordinariamente rigorosa.
Alfonso Berardinelli
Revista Electra