Sintéticos e Precisos
Nada que valha a pena expressar jamais fica por expressar; isso seria contra a natureza das coisas.
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Cada homem tem, muito pouco para expressar, e a soma de toda uma vida de sentimento e pensamento pode, às vezes, caber inteira num poema de oito linhas.
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Cada um de nós tem, talvez, muito que dizer, mas sobre esse muito há pouco que se diga. A posteridade quer que sejamos sintéticos e precisos.
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A variedade é a única desculpa para a abundância. Nenhum homem deve deixar vinte livros diferentes a menos que possa escrever como vinte homens diferentes. As obras de Victor Hugo enchem cinquenta grandes volumes, mas cada volume, cada página quase, contém todo o Victor Hugo. As outras páginas somam-se como páginas, não como génio. Não havia nele produtividade, mas prolixidade. Desperdiçou o seu tempo como um génio, por muito pouco que o tenha desperdiçado como escritor. A opinião de Goethe sobre ele permanece suprema, apesar de precocemente dada, e uma grande lição para todos os artistas: «deveria escrever menos e trabalhar mais», disse. Esta é, na sua distinção entre o trabalho verdadeiro, que não se atende, e o trabalho fictício, que ocupa espaço —pois as páginas não são mais do que espaço —, uma das grandes opiniões críticas do mundo.
Se consegue escrever como vinte homens diferentes, então é vinte homens diferentes, seja lá como for, e seus vinte livros têm justificação.
Fernamdo Pessoa
de Heróstrato