Consentimento e Submissão
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No capítulo da Dialéctica do Esclarecimento dedicado à indústria cultural lemos: «A diversão no capitalismo tardio é o prolongamento do trabalho.» É igualmente mecanizada, programada e produzida em massa. É vivida como uma cópia, uma reprodução do processo de trabalho que tem lugar na fábrica ou no escritório. Com efeito, o consumidor de cultura «divertida» é quase exclusivamente um consumidor de cópias: filmes, imagens fotográficas impressas em jornais, revistas e painéis publicitários, emissões de rádio e televisão e gravações de música. Cópias destinadas a preencher o tempo livre com diversões estandardizadas, que são o oposto traiçoeiro da verdadeira etimologia de di-versão: o que separa, o que afasta, aparta ou desvia, em particular de algo experimentado como penoso ou maçador. Adorno, em suma, defende duas hipóteses em relação à indústria cultural: 1) que houve uma fusão de cultura e entretenimento, possível graças à banalização lúdica da cultura e à forçada espiritualização da diversão e 2) a submissão desta cultura-entretenimento ao trabalho, quando se supõe que a sua vocação seja opor-se a ele.
Raúl Rodriguez-Ferrándiz
Cultura e Tempo Livre na Era da Sua Compartibilidade Técnica, revista Electra