Sou Um Homem Como Tu


Sim, mas o que significa sair da discriminação? Significa sair do gueto, significa ter acesso a toda a humanidade e não criar outros guetos. Bem sei que a afirmação da condição negra como identidade é uma resposta à categorização, à objectivação a que são submetidos pelos brancos. Mas devemos responder ao racismo dizendo «sou negro» ou «sou um homem como tu»? A resposta deve ser política, para não transformar a emancipação numa identidade restritiva. Podemos dizer-nos a nós próprios: «identifico-me como negro» ou «identifico-me como judeu», mas isso é limitado. É preciso afirmar-se como um sujeito livre. Na minha opinião, o comunitarismo é uma reacção à globalização, ou seja, à perda das fronteiras, à perda da nação, à perda das tradições. É por isso que estamos hoje num terreno muito reaccionário na Europa. As pessoas têm medo de tudo, medo da imigração, da invasão, de perder a sua pequena aldeia.

Élisabeth Roudinesco
O Narcisismo das Pequenas Diferenças, revista Electra


Estamos bem cientes de como a classificação dos seres humanos por raças, etnias, classes, culturas e geografias permitiu a exploração da classe proletária, a escravatura, a colonização, a eugenia e o extermínio de grupos étnicos. De como a taxonomia produz hierarquias, até porque a categorização dos humanos começou com a descoberta dos «selvagens» na sequência das viagens de exploração.

Sinziana Ravini
O Narcisismo na Arte Contemporânea, revista Electra