Gloriosos Pândegos: Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico


PRECEITOS PARA USO DO PESSOAL DOMÉSTICO
JONATHAN SWIFT
(1731)

Quando o senhor ou a senhora chamarem um criado pelo nome e ele não estiver presente, que ninguém responda, pois de outro modo não se acabarão os trabalhos e os próprios amos admitem ser suficiente que um servidor acorra, mal seja chamado. 
Se tiverem cometido qualquer falta, mostrem-se sempre descarados e insolentes e procedam como se vossemecês é que tivessem razão de queixa; isto acalmará, imediatamente, o senhor ou a senhora. 
Se virem um colega a prejudicar seu amo, ponham o maior cuidado em o encobrir, para não serem tidos como mexeriqueiros; no entanto, há uma excepção, no caso de um criado favorito, justamente detestado por todo o pessoal; nessa circunstância, será da maior prudência atirar para cima dele todas as culpas. 
A cozinheira, o mordomo, o moço de estrebaria, o encarregado das compras na praça e todo o pessoal responsável pelas despesas da família farão bem em proceder como se toda a fortuna do amo se destinasse ao orçamento de cada um. Por exemplo, se a cozineira avaliar o rendimento do senhor em mil libras esterlinas por ano, conclua, com toda a justiça, que com tal importância se deve ter carne bastante, não se admitindo, portanto, sovinices; o mordomo seguirá igual raciocínio, o mesmo podendo pensar tanto o eguariço como o cocheiro; assim, todo o tipo de despesas se fará para honra da casa.

Estampa, 1970
(Clássicos de Bolso)
trd. João Fonseca Amaral
(lido em 2018; 2023)