Mundos Fabulosos: O Segredo do Bosque Velho


O SEGREDO DO BOSQUE VELHO
DINO BUZZATI
(1935)

Sabe-se que o coronel Sebastiano Procolo se veio estabelecer no Vale de Fondo na Primavera de 1925. Seu tio Antonio Mono tinha-lhe deixado, ao morrer, parte de uma enorme propriedade florestal a dez quilómetros da povoação. 
A outra parte, muito maior, fora deixada ao filho de um irmão já falecido do oficial: Benvenuto Procolo, um rapaz de doze anos, órfão também de mãe, que vivia num colégio particular a pouca distância de Fondo. 
Até então, o tutor de Benvenuto tinha sido o tio-avô, Mono. A custódia do rapaz foi em seguida confiada ao coronel. 
Naquele tempo, e assim se manteve mais ou menos até ao fim, Sebastiano Procolo era um homem alto e magro, com um vistoso par de bigodes brancos e uma força fora do comum, contando-se até que era capaz de partir uma noz entre o indicador e o polegar da mão esquerda (Procolo era canhoto). 
Quando se aposentou do exército, os soldados do seu regimento deram um suspiro de alívio, pois dificilmente se podia imaginar um comandante mais severo e meticuloso. A última vez que ele atravessou, para sair, o portão do quartel, a formação da guarda deu-se com especial celeridade e precisão, como não acontecia havia alguns anos; o trombeteiro, apesar de ser o melhor do regimento, superou-se realmente a si próprio com três toques de sentido que, pelo seu esplendor, se tornaram notórios em toda a guarnição. E o coronel, com um ligeiro arqueamento dos lábios que podia parecer um sorriso, deu mostras de interpretar como um sinal de comovida deferência aquilo que na realidade era uma manifestação de júbilo interior pela sua partida.

Cavalo de Ferro, 2006
trd. Margarida Periquito
(lido em 2006)