Poesia: O Operário em Construção

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
VINÍCIUS DE MORAES
(P. 1969)
A uma Mulher
Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sôbre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que fôste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente fôste a serenidade.
Dom Quixote, 1986
(Biblioteca de Bolso)
apr. Alexandre O'Neill

O POETA APRESENTA O POETA
(lido em 2019)