Uma Aventura: Lord Jim


LORD JIM
JOSEPH CONRAD
(1900)

« — Maravilhoso!, repetiu, olhando para mim. Veja! Que beleza — mas isso não é nada — veja a perfeição, a harmonia. É tão frágil! E no entanto é tão forte! Tão precisa! É isto a natureza — o equilíbrio de forças colossais. Cada estrela é assim — e cada folhinha de erva tem o seu equilíbrio próprio — e o poderoso Cosmos num equilíbrio perfeito produz... isto. Esta maravilha; esta obra-prima da Natureza o grande artista.
— Nunca ouvi um entomologista falar assim, observei alegremente. Obra-prima! E então o homem?
— O homem é espantoso, mas não é uma obra-prima, respondeu ele, continuando a olhar para a vitrina. Talvez o artista fosse um pouco louco. O que é que acha? Por vezes parece-me que o homem veio para onde ninguém o chamou, para onde não há lugar para ele; se assim não fosse porque é que ele quereria ocupar todo o espaço? Porque é que anda ele de um lado para o outro a fazer tanto barulho acerca de si próprio, a falar das estrelas, a perturbar as folhas de erva?...
— A apanhar borboletas, acrescentei.»

« — Queremos ser de tantas maneiras diferentes, continuou. Esta magnífica borboleta encontra um pequeno monte de porcaria e pousa nele; mas o homem nunca consegue ficar quieto em cima do seu monte de porcaria. Quer ser isto, e quer ser aquilo... Levantou a mão e voltou a baixá-la... Quer ser um santo e quer ser um demónio — e de cada vez fecha os olhos e vê-se perfeito, perfeito como nunca poderá vir a ser... Num sonho...»

Guerra & Paz, 2018
(Clássicos)
trd. João Moita


LORD JIM
(trd. Maria do Rosário Maia)
(lido em 2020)